Com o livro Estranhezas, publicado pela Dom Quixote em Outubro de 2018, Maria Teresa Horta, que era uma das onze finalistas, acaba de ser anunciada vencedora do Prémio Literário Casino da Póvoa, integrado na 22.ª Edição do Festival Literário Correntes d’Escritas, que hoje mesmo teve início na Póvoa de Varzim.
O júri do prémio, constituído por Daniel Jonas, Inês Pedrosa, José António Gomes, Luís Caetano e Marta Bernardes, tomou esta decisão por maioria e justificou-a afirmando que Estranhezas é uma “síntese de um percurso poético ancorado na celebração do corpo e do desejo, que estabelece um diálogo transgressor com a tradição lírica e medieval e renascentista”, ao mesmo tempo que salientou o facto de a autora ter criado “um glossário e uma sintaxe muito pessoais, um idioma singular que subverte e actualiza a ideia da poesia como um canto celebratório, brincando com as convenções da rima e do ritmo, fazendo-as implodir num erotismo vital, que se exerce numa contínua experimentação dos limites da nudez e mistério da palavra”.
Estranhezas é um livro composto por sete capítulos que não encobrem uma continuidade quase vital: No Espelho, Paixão, Da Beleza, Alteridades, Tumulto, Ferocidades e À Beira do Abismo.
É que se o eu horteano está bem patente nos primeiro, segundo e último capítulos, os outros e outras de Alteridades, Tumulto e Ferocidades são magníficos desenhos traçados pela mesma mão que escreveu os primeiros.
Tudo isto sob o signo da asa. Que a capa de Dürer bem afirma, e o poema A Asa, da contracapa, explana, numa poderosa manifestação do talento da autora.
Maria Teresa Horta sucede assim ao escritor angolano Pepetela que no ano passado, quando o prémio se destinou a obras em prosa, o venceu com o romance Sua Excelência, de Corpo Presente, igualmente publicado pela Dom Quixote.
Nascida em Lisboa, onde frequentou a Faculdade de Letras, Maria Teresa Horta, escritora e jornalista, estreou-se na poesia em 1960, com Espelho Inicial; no ano seguinte participou com Tatuagem em Poesia 61. Tem a sua obra poética editada (17 títulos, entre os quais o inovador Minha Senhora de Mim, recentemente reeditado) e coligida em Poesia Reunida (2009).
Posteriormente, trouxe a público Poemas para Leonor (2012), A Dama e o Unicórnio (2013), Anunciações (2016) – Prémio Autores SPA / Melhor Livro de Poesia 2017 –, Poesis (2017) e, para além de Estranhezas, a antologia pessoal Eu Sou a Minha Poesia (2019).
Na ficção, é autora de Ambas as Mãos sobre o Corpo (1970), Ana (1974), Ema (1984), Cristina (1985) e A Paixão segundo Constança H. (1994) e co-autora, com Maria Isabel Barreno e Maria Velho da Costa, das internacionalmente reconhecidas Novas Cartas Portuguesas (1972).
Em 2011, publicou As Luzes de Leonor, romance sobre a Marquesa de Alorna distinguido com o Prémio D. Diniz, da Fundação da Casa de Mateus. Em 2014, ano em que lhe foi atribuído o Prémio Consagração de Carreira pela Sociedade Portuguesa de Autores, editou o volume de contos Meninas.
Com livros editados no Brasil, em França e Itália, Maria Teresa Horta foi a primeira mulher a exercer funções dirigentes no cineclubismo em Portugal e é considerada uma das mais destacadas feministas da lusofonia.