terça-feira, 22 de março de 2022

"A Despedida de Ulisses" o novo romance de Francisco Moita Flores


“A Despedida de Ulisses” é o título do novo romance do escritor Francisco Moita Flores, editado hoje. Uma sátira sobre a pandemia, nascida da dor da perda do pai, vítima de Covid-19.

“Este romance é filho da pandemia. Começou a germinar depois do primeiro Estado de Emergência e quando comecei a perceber que estávamos a ficar - como direi? - um pouco desequilibrados. A falta daqueles que amamos, a falta dos abraços, dos beijos, dos encontros, do simples aperto de mão, foi dose a mais. A solidão aprisionou-nos num voluntário mas terrível cativeiro. Criei Ulisses e Florência, um casal aflito, desorientado no vulcão de notícias, conselhos e comentários que explodiam nos nossos quotidianos. Porém, passados meses do início do autoexílio, a Covid levou o meu pai. Sem direito a exéquias fúnebres, manifestações de pesar vigiadas pela polícia e a obrigatoriedade do distanciamento social.”

Ulisses e Florência – são um bocadinho de todos nós apimentados com os salpicos de loucura que o confinamento nos trouxe. Foram Contínuos, mais tarde promovidos a Assistentes Operacionais, pais de três filhos, cinquenta anos de comunhão de ternura e quezílias que, tal como nós, viveram assarapantados com as notícias e milagres. E não morreram de Covid. Viverão felizes para sempre nas páginas deste romance. Mas, pelo meio,  viveram enclausurados pela polícia sanitária, tornámo-nos atores e espetadores desse psicodrama vertiginoso que nos remeteu para estudos e perícias, presos aos saberes de gente especializada. “Nunca como neste tempo de transtorno se percebeu como a informação-espetáculo não coabita pacificamente com o conhecimento. Alimenta-se de poeira, ignorando a tempestade, olha a espuma das ondas sem vislumbrar a grandeza dos mares. “

 “Quem abrir este meu novo romance perceberá que o dedico ao meu pai. O luto abria-me o coração ao drama. Resisti. A ironia é uma poderosa arma de resistência. Passados os primeiros tempos de luto solitário, voltei à escrita. A experiência vivida obrigou-me a reescrever e a reorientar a história, embora não perdesse o olhar satírico sobre a loucura que nos invadiu e que nos tem atormentado. Ri e chorei com os meus personagens. Eles são, como qualquer personagem, uma parte de quem escreve.”

Sobre o Autor

Francisco Moita Flores é dos autores de língua portuguesa mais conhecido quer pela sua obra literária: A Fúria das Vinhas, Segredos de Amor e Sangue, A Opereta dos Vadios, Mataram o Sidónio!, O Mensageiro do Rei, O Mistério do Caso de Campolide e Os Cães de Salazar, que deu origem à série O Atentado, entre muitos outros títulos; quer pelos brilhantes trabalhos para cinema e televisão, onde se recordam A Ferreirinha, Ballet Rose, Alves dos Reis, O Processo dos Távora e O Bairro, além da adaptação de clássicos, nomeadamente de Eça de Queirós, Júlio Dinis e Aquilino Ribeiro. Mestre na arte dos diálogos, dá corpo e alma às personagens à medida que desenvolve a narrativa dramática, assumindo em cada romance a sua dimensão humanística e de intervenção cívica através de uma narrativa simples carregada de duplo sentido.