segunda-feira, 21 de março de 2022

E se transformássemos a melancolia em criatividade e sabedoria?


Sendo um dos sentimentos mais complexos e ambivalentes, na Idade Média a melancolia era uma «doença diabólica», no Renascimento estava ligada à reflexão e à sabedoria, e no Romantismo era uma qualidade que encorajava a criatividade e a arte. O problema surgiu quando, no início do século XX, se substituiu a palavra «melancolia» por «depressão», como se fossem sinónimos, e se enveredou pelo caminho da medicalização dos «estados melancólicos».

No livro Melancolia em Tempos de Perturbação, a filósofa Joke J. Hermsen propõe uma nova abordagem da melancolia, assumindo-a como um pilar da civilização e uma forma de nos relacionarmos com o mundo e a natureza. Mostra o ser humano como uma entidade capaz de transformar a perda e a transitoriedade em criatividade e esperança – e, com a ajuda de pensadores como Hannah Arendt, Ernst Bloch e Lou Andreas-Salomé, investiga as circunstâncias em que o ser humano usa e ultrapassa a melancolia para estabelecer uma nova relação com o mundo e consigo mesmo. Ou seja, a melancolia é um dos nossos estados naturais – e um dos mais criativos.

Sobre a Autora

Joke J. Hermsen (1961), escritora e filósofa neerlandesa, estudou arte e filosofia em Paris e Utreque. Publicou vários livros de ficção, incluindo um romance histórico sobre o «grupo de Bloomsbury» (a que pertenciam Virginia Woolf, T.S. Eliot ou E.M. Forster, nomeadamente) ou uma sátira à vida nos meios filosóficos e académicos. Os seus ensaios são fundamentalmente sobre filosofia contemporânea (Sarah Kofman, Gilles Deleuze, Simone de Beauvoir, Henri Bergson, Maurice Blanchot, Lou AndreasSalomé ou Hannah Arendt, entre outros), o nomadismo e a crítica ao «tempo tecnocrático». Joke J. Hermsen vive e trabalha em Amesterdão.