quinta-feira, 24 de março de 2022

Astor Piazzolla - The American Clavé Recordings



No próximo dia 6 de maio de 2022, a Nonesuch Records vai lançar, nos formatos CD e LP, uma caixa com três álbuns do grande compositor, chefe de banda e acordeonista argentino Astor Piazzolla, originalmente editados pela American Clavé Records nos anos 80 e que foram reeditados pela Nonesuch há mais de duas décadas.

Astor Piazzolla: The American Clavé Recordings assinala a primeira vez em que estes três álbuns incontornáveis — Tango: Zero Hour, La Camorra: The Solitude of Passionate Provocation e The Rough Dancer and the Cyclical Night (Tango Apasionado) — são editados com o áudio remasterizado numa mesma obra. É também a primeira vez, desde a sua edição original pela American Clavé, que estes três álbuns vão estar disponíveis em vinil.

As notas incluem notas originais e novas da autoria de Kip Hanrahan, produtor dos álbuns e fundador da American Clavé, e um ensaio do jornalista Fernando González, que traduziu e anotou as memórias de Piazzolla e escreveu as notas de quatro dos seus álbuns. A caixa, cujo lançamento foi originalmente marcado para 2021, o ano do centenário de Piazzolla, inaugura o início do segundo século da influência duradoura de Piazzolla.

Segundo González, no seu texto de 2021: “Em maio de 1986, Astor Piazzolla, o criador do “novo tango,” entrou com o seu quinteto no estúdio, em Manhattan, para gravar Zero Hour. Foi o primeiro dos três discos que o consagraram finalmente nos Estados Unidos e reforçaram o seu estatuto mundial.”

Embora Piazzolla fosse conhecido como o pai do “novo tango,” Kip Hanrahan diz: “Na realidade, não sei se o Astor amava ou detestava o tango. Acho que ele adorava a música perene do pai como o som do que tinham deixado para trás na Argentina… era a identidade audível que os tornava diferentes das famílias italianas ou judaicas que eram vizinhas deles no Lower East Side de Nova Iorque, onde o Astor cresceu. Quando ouço o Astor, não estou propriamente a ouvir o tango re-imaginado e salvo por um compositor brilhante, mas sim a música de um homem turbulento, complexo, irrequieto e brilhante que está a refazer o vocabulário dos sonhos de seu pai.”

Tango: Zero Hour foi gravado em Nova Iorque por Piazzolla e pelo seu New Tango Quintet, que colaborou com ele entre 1978 e 1988 e se compunha de Fernando Suárez Paz (violino), Pablo Ziegler (piano), Horacio Malvicino, Sr. (guitarra) e Héctor Console (baixo). González escreve o seguinte sobre Tango: Zero Hour: “São composições exigentes mas os músicos são consistentemente exatos e intensos. Enquanto conjunto, Piazzolla e o New Tango Quintet soam focados, descontraídos e enérgicos. Controlam totalmente a música e demonstram-no mudando casualmente de direção, ambiente e dinâmica. Piazzolla percebeu de imediato que o quinteto tinha feito algo de especial, ‘o melhor disco que gravei na vida. Demos-lhe as nossas almas.’” Tango Zero Hour foi editado pela American Clavé em 1986.

La Camorra, editado em 1989, foi gravado em Nova Iorque, em maio de 1988, também com o New Tango Quintet. Segundo González: “La Camorra, além de ser uma obra-prima, conclui dos capítulos significativos da vida e da carreira musical de Piazzolla. Está dividido em três peças separadas, mas relacionadas, mas é mais do que um sumário: mostra Piazzolla a refletir carinhosamente sobre o tango, conjurando músicos e estilos antigos, mas também furiosamente, exigindo o seu lugar na história do tango. No estilo de Zero Hour, Piazzolla completa o disco com versões polidas de obras que já tinha gravado, e o quinteto apresenta-se novamente em grande forma. La Camorra, com peças originais e interpretações impecáveis de quatro obras do seu repertório, é um marco na discografia de Piazzolla. E também foi a última gravação de Piazzolla com o New Tango Quintet.”

The Rough Dancer and the Cyclical Night (Tango Apasionado), também editado em 1989, foi gravado em Nova Iorque, em setembro de 1987, com um conjunto composto por Fernando Suárez Paz (violino), Pablo Zinger (piano), Paquito D’Rivera (saxofone e clarinete), Andy González (baixo) e Rodolfo Alchourrón (guitarra elétrica). Segundo González, “The Rough Dancer and the Cyclical Night (Tango Apasionado), gravado por Piazzolla sem o Quintet, ocupa um lugar único na sua discografia. Baseou-se na música que Piazzolla compôs para Tango Apasionado, uma obra de dança e de teatro criada por Graciela Daniele inspirada em histórias do escritor, poeta e ensaísta argentino Jorge Luis Borges. Mas o que verdadeiramente distingue The Rough Dancer na discografia de Piazzolla é a forma como foi criado. Até aquela altura, o estúdio tinha sido essencialmente para Piazzolla um meio para documentar a música que ele criava, mas nesta altura, Piazzolla ficou intrigado com a ideia de usar o estúdio como instrumento criativo, talvez mesmo para compor e orquestrar.”

O “novo tango” de Astor Piazzolla, que incorpora formas da música clássica e elementos do jazz no tango tradicional, foi tão controverso quando surgiu que Piazzolla foi alvo de muitas ameaças à sua vida e foi exilado do seu país. O tango tradicional, nascido nos bordéis de Buenos Aires – tal como o jazz começou em Nova Orleães –, foi assombrado pela sua origem durante décadas. Piazzolla, com o seu estilo inovador e o seu desejo de legitimar o tango e de o levar a um público sério, mudou para sempre a face da música.

Quando Tango: Zero Hour foi editado, Piazzolla estava no auge. A Village Voice chamou-lhe “um mestre moderno” e o New York Times escreveu, “Não se trata só de ouvir os tangos de Piazzolla como maravilhas musicais. As linhas agudas e as melodias intensas dos seus tangos desafiam-se e abraçam-se mutuamente, sugerindo que mesmo no mundo moderno o romance ainda está vivo.”

A obra de Astor Piazzolla na Nonesuch

O catálogo da Nonesuch inclui outros discos importantes de Piazzolla, incluindo Concierto para bandoneón e Tres tangos, editados em 1988, e o seu último disco, Five Tango Sensations, encomendado pelo Kronos Quartet e editado em 1991. A primeira composição de Piazzolla para o Kronos, Four, For Tango, está incluída no seu disco Winter Was Hard, lançado em 1988. A música de Piazzolla consta também de quatro edições da Nonesuch de discos gravados pelo violinista Gidon Kremer: Hommage à Piazzolla, El Tango, Tracing Astor e Eight Seasons, que também foram lançados numa caixa intitulada Hommage à Piazzolla: The Complete Astor Piazzolla Recordings.