quinta-feira, 19 de setembro de 2019

Crónica de Viagens - Jorge Santos


São oito da manhã, acordo meio anestesiado e vou até à janela contemplar a vista do meu 25º andar. Não me atrevo abrir a janela, pois muitos dos carros ainda se movem a petróleo.

Fico estático admirando aquela cidade, em que o tempo teima em não passar... “ La bella Havana “
Já perdi a conta das vezes que visitei esta cidade, e como diriam tantos e tantos poetas, Cuba, e especialmente a cidade de Havana não se explica, sente-se...

A cidade que teima em não sair do postal de há mais de 60 anos, por força de um bloqueio decadente e sem sentido. 
Havana, onde a imponência dos seus edifícios coloniais deixam-nos a pensar no glamour de outras épocas...
Havana a cidade das artes, da arquitetura, da cultura, mas essencialmente da música. Essa música contagiante e intemporal à qual ficamos completamente rendidos. 
Havana da Praça da Catedral, da emblemática “Bodeguita del medio”, do Hotel Ambos Mundos, e de tantos e tantos pontos de interesse. 


Entro no famoso bar Floridita para beber o tradicional “Daiquiri”, e ao fundo um quarteto de músicos tocam a minha música Cubana preferida “ Chan Chan”, imortalizado por Compay Segundo e pelo projeto Buena Vista Social Club. O ambiente é indescritível...
Ao fundo o busto de outro dos grandes ícones da cidade: Ernest Miller Hemingway.

O café está cheio de pessoas com corpos suados ao ritmo da salsa. As seis ventoinhas que giram ao compasso da música teimam em não refrescar o calor abrasador da sala.
Saio em direção ao Parque Central, bem junto ao Capitólio e cumprimento Juan, um dos muitos amigos que conheço há mais de duas décadas! Como sempre, a festa é enorme e convida-me orgulhosamente para entrar no seu Chevrolet 52. Os platinados brilham. O roncar do velho motor ainda a petróleo é carismático... e lá vamos nós. 
Conta-me que tudo se mantém na mesma, mas para pior. A mesma conversa de sempre. Histórias visivelmente difíceis de compreender em pleno século XXI...
O passeio é o de sempre, Praça da Revolução onde tantas e tantas vezes o povo assistiu a comícios liderados por Fidel Castro com palestras de mais de três horas sobre um sol abrasador. 
Continuamos pela zona de Miramar e do famoso Malecón. Aí contemplamos os seus edifícios coloniais cada vez mais degradados, quer seja pela erosão do mar ou pela falta de matéria prima que teima em não chegar...


À noite vou deambulando pelas ruas, e dou por mim a ir directamente a um dos locais da cidade onde na minha opinião, se escuta a melhor Salsa e onde os cubanos se reúnem. 
Ali sente-se o verdadeiro espírito da música cubana! 
Estamos a falar de um velho pátio com paredes degradadas, bem por cima de uma velha oficina com a clarabóia partida, onde o cheiro a óleo velho e petróleo marca a sua presença.
Os músicos, esses, tocam numa espécie de varandim com algumas mesas laterais ao palco, onde podemos beber uns mojitos ao mesmo tempo que contemplamos e somos levados pelo ritmo frenético da música cubana. Daí até estarmos a dançar junto dos músicos, é um instante. 
Toda a atmosfera é simplesmente contagiante e enigmática. Os músicos, limpam constantemente o suor dos seus rostos com pequenos lenços tirados do bolso, ao mesmo tempo que conseguem arrancar melodias e notas incrivelmente mágicas de instrumentos velhos e completamente enferrujados pelo tempo.


Tudo isto é autêntico, tudo isto é Havana, tudo isto é Cuba.

Não termino a noite sem dar um pulo a um dos lendários hotéis da cidade, o velho “ Tryp Havana Livre”, onde do cimo do seu 26º andar temos uma vista de 360 graus sobre a cidade de Havana. 
Observar o Malecón daquele lugar é simplesmente imperdível. 


O tecto da discoteca abre-se anunciando a meia-noite. O ambiente, uma vez mais, é carismático e único. O céu está estrelado dando-nos a sensação de estarmos num qualquer planetário. 
É altura para um novo momento musical ao vivo. Desta vez, e de uma forma mais estilo piano bar, os acordes de “Hasta Siempre Comandante” levam-me a pensar, entre muita nostalgia, que destino está reservado para este país? Para estas pessoas ?
Um país rico em cultura, mas preocupante em oportunidades e bens primários.
Seja como for, Cuba merece sem dúvida a sua visita. 
Não esperem lojas, shoppings, ou grandes restaurantes, mas sim uma cidade que apesar de tudo, nos oferece um povo honesto, culto e cheio de amor para nós dar... 
Tenho a certeza que não vai ficar indiferente.

Esta não foi, nem será a minha última visita. 

Hasta siempre...



Apresentação Jorge Santos

O meu nome é Jorge Santos, tenho 48 anos e trabalho na Agência Abreu há mais de 33 anos. A minha paixão é a família, e o Mundo, afinal de contas a minha verdadeira casa ao longo dos tempos. Como coordenador nacional dos grupos de lazer da Abreu, acompanho inúmeros clientes por esse mundo fora, assim como construção de viagens à medida e respectivas viagens de inspecção.

O que vou tentar transmitir através de alguns artigos, são simplesmente sentimentos e experiências vividas na primeira pessoa, e não falar tanto da vertente organizativa da viagem em si.